Segunda, 6 de Maio de 2024 Adrego & Associados – Consultores de Gestão

Aprenda a acumular ganhos ao remar contra a maré

Seguir uma estratégia de investimento contrária à do mercado exige uma boa dose de coragem e de persistência. A destreza está em saber apanhar a corrente certa.

“Follow the trend, the trend is your friend” (segue a tendência, a tendência é tua amiga) é um dos “slogans” mais populares de “Wall Street” e que espelha o comportamento de muitos investidores no mercado: comprar quando toda a gente está a comprar e vender quando todos estão vendedores. É o chamado efeito da manada. Na bolsa, este fenómeno é visível durante períodos de euforia e de pânico com os investidores a seguirem cegamente o vizinho e que, geralmente, termina com uma profunda crise, como a que ocorreu no início do milénio em redor das empresas tecnológicas e mais recentemente com a crise do ‘subprime’ no sector imobiliário.

Do lado oposto a todo estes trambolhões da bolsa costumam figurar os investidores contrários, como Warren Buffett, David Dreman e John Neff que, em vez de se limitarem a apostar nas empresas que toda a gente está a comprar, preferem seguir exactamente no sentido oposto à da tendência do mercado. Não se trata de comprar todas as acções nas quais mais ninguém está interessado. Consiste sim em procurar acções de companhias que deixaram de ser populares e que hoje apresentam bons indicadores financeiros: “Como investidores contrários procuramos comprar acções que apresentem um crescimento comprovado dos lucros, que exibam uma forte estrutura financeira e apresentem retornos acima da média”, revela David Dreman, conhecido como o fundador do investimento contrário, no sítio da sociedade gestora com o seu nome.

No leque de preferências do lendário gestor contam-se, normalmente, empresas que estejam a atravessar situações de reestruturações ou de recuperação operacional e que, muitas vezes, são abandonadas pelos investidores, acabando por se traduzir em preços mais baixos. Hoje, a partir do seu escritório, a apenas 15 minutos de Wall Street, Dreman e a sua equipa de gestores contrários do fundo Dreman Contrarian International Value centra as suas apostas em títulos de petrolíferas, como a Royal Dutch Shell, a Total e a BP, e ainda para algumas companhias que operam no sector financeiro, como a HSBC, o ING Group e o banco Santander.

Replicando a estratégia do mestre
“Compro sempre acções em que os rácios do preço da acção pelos lucros por acção (PER), pelo valor contabilístico (PBV) da empresa e pelos fluxos de caixa gerados, sejam baixos, e ainda ofereçam taxas de dividendos acima da média”, explica Dreman. Recorrendo a esta matriz, encontram-se três empresas espalhadas pelas principais praças mundiais que poderiam encher as medidas do lendário investidor. Entre as eleitas encontra-se a EDP, que está a negociar por um preço 10,5 vezes inferior aos lucros por acção gerados nos últimos 12 meses e António Mexia promete remunerar os accionistas da eléctrica nacional com uma taxa de dividendos de 5,37%. No lote das eleitas ainda há lugar para a operadora de telecomunicações holandesa KPN e a eléctrica alemã RWE.

No entanto, Dreman, que além de contar com mais de 30 anos de experiência no mercado de capitais é também autor de vários livros sobre estratégias de investimento contrárias, lembra que a venda de acções deverá ser feita mediante dois acontecimentos: “Se os fundamentais se alterarem repentinamente e o rácio preço-lucros por acção se situar acima da média, vendo imediatamente”, diz. Para o gestor canadiano, estes são sinais evidentes de que a empresa poderá estar a atravessar um período de dificuldade mas, sobretudo, estará envolvida num cenário de mercado pouco racional, que colocará em causa a sua estrutura base.

Para enfrentar o mercado apostando na direcção oposta à sua tendência é preciso uma boa dose de coragem e ser extremamente persistente, pois as consequências podem revelar-se catastróficas. Mas, como na vida, também na bolsa é preciso, por vezes, ser teimoso. Este é o princípio dos investidores que remam contra a maré (mercado), que olham para uma situação de pânico não como uma catástrofe mas como uma oportunidade de investimento.
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in Diário Económico